domingo, 15 de abril de 2007

Futuro de cores tristes


"O dia nasceu nublado, meio frio. Não era triste, nem alegre. Mas sabia que se tratava de um dia cheio. A tarde o sol já era tímido, o vento gelado e o dia parecia nunca terminar. Ótimo! Precisava do máximo de tempo possível. Do banco de trás do carro permanecia com um livro nas mãos. Lia uma história envolvente e cada segundo livre era dedicado a ela. De repente olhei pela janela, o bairro para onde estávamos indo era desconhecido por mim, mas fui informada pelo motorista que havíamos chegado ao nosso destino. Já não conseguia mais voltar a ler o livro. Do lado de fora caia uma leve garoa e as crianças estavam no meio da rua. Elas não brincavam, perambulavam, apesar de suas casas estarem próximas dali. Era diferente de vê-las no sinal, por exemplo. Sempre imaginei que por mais que ficassem na rua vendendo doces ou pedindo esmola elas teriam para onde voltar a noite. E elas realmente tinham, ali eram suas casas, mas ainda assim elas possuíam o olhar perdido. A matéria era sobre um assassinato que havia acontecido há dois dias, mas ninguém parecia estar assustado, ou ao menos abatido. Se não fosse pela tristeza velada em seus olhos jamais imaginaria que eles tivessem perdido alguém. As crianças que viviam na casa em que estávamos também não pareciam se importar. Deviam mesmo ter-se acostumado. Olhando para aquele grande número de meninos e meninas perdidos nas ruas, sim, porque eram muitas, só então pensei: Qual será o futuro delas? Quando se fala nos pequeninos a palavra “futuro” é a que mais se sobressai. Mas elas teriam um futuro? Digo, um digno. Lembrei das fotografias em P&B onde elas aparecem tristes e esguias que fazem sucesso em exposições e geralmente são exploradas pela mídia, sempre seguidas de alguma pergunta vazia sobre o futuro, mas aquilo era diferente. Era real. Era colorido. E pela primeira vez as cores me pareceram tristes".

2 comentários:

Vivian Barbosa disse...

doloroso...

Eduardo Leite disse...

Parabéns pelo seu Blog e mais ainda pela sua conscientização social,tão bem evidenciada neste texto.
Um abraço,

Eduardo Leite
www.eduardoleite.blogspot.com